Autismo - Uma Vida em Poucas Palavras

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ano Novo, de novo

Final de mais um ano chegando, muitas pessoas envolvidas nos preparativos das festas e compra de presentes. Algumas eufóricas com a temporada de praia, com a época vibrante do verão, o que inclui sol, amigos e também mais festas. Também me incluo no percentual de pessoas que adora o calor, sol e mar. Ficamos com o corpo mais livre, mais despojados e alegres, por esta razão, meu filho também curte muito este período de liberdade. Pode andar descalço, visto que luta o ano todo por esta conquista, e tranquiliza-se atirado no sol e mergulhado na água,como se nada mais fosse preciso para ser feliz.
Mas, próximo ao Natal, com as comemorações na escola, sinto um vazio, pois estas convenções expõem a limitação de meu filho, que mais uma vez não consegue acompanhar os ensaios para a apresentação de uma coreografia de encerramento de ano. O agito das crianças empolgadas com o evento e a ansiedade das mães com as fantasias e filmagem, me colocam cara a cara com a solidão de meu pequeno. Sua incapacidade verbal e de envolver-se em jogos, cada vez o distância mais da companhia de crianças de sua idade. Por mais que os colegas se esforcem em incluí-lo na turma, enchendo-o de carinho, os beijos e abraços das meninas não conseguem trazê-lo ao nosso mundo convencional, cheio de abstrações, regras e formalidades. Ele segue sendo o estranho no ninho, com seus rituais reconfortantes, curtindo seu cantinho na sala de aula, os objetos eleitos por ele como seus brinquedos prediletos e acompanhando a rotina a seu modo, no seu ritmo.
Por isto, talvez, não consigo mais me empolgar com a frenética fantasia de final de ano, pois meu menino não prepara uma lista interminável de presentes, nem aguarda ansioso a chegada do Papai Noel e a hora da ceia de Natal e Ano Novo. Na verdade, à meia- noite ele já estará dormindo, sendo a noite dos dias 24 e 31, iguais às outras todas do resto do ano.
Assisto a tudo em câmera lenta, tentando acomodar meus pensamentos e sentimentos, aproveitando a época de reflexão para me fortalecer e enfrentar um novo ano de desafios, na esperança de que a ciência avance a passos largos na busca das causas e cura do autismo, e apostando na evolução da sociedade no que diz respeito à tolerância e convívio com o diferente. Mas o sol aquece e o mar embala nossos sonhos, tornando-os mais concretos e passíveis de realização. Talvez, o bom velhinho me presenteie com noites tranquilas e bem dormidas, e com dias recheados de alegrias e pequenas vitórias, e assim meu coração tornará a aquietar-se e a bater em compasso com os demais.

Silvia Sperling.