Felizmente, mais uma vez, o dia 2 de abril, Dia Mundial de
Conscientização do Autismo, será promotor de discussões densas e intensas sobre
esta síndrome. Já no mês de março, com o retorno às aulas, os meios de
comunicação abriram espaço para o tema da inclusão escolar do autista, e,
quando se fala na relação do autista com os demais colegas, sempre se levanta a
questão do bullying e de quanto é tolerado a presença de uma pessoa tão
diferente e com condutas tão distantes do considerado normal.
Acredito que o bullying não deve ser visto de um só ângulo,
pois existe uma diferença crucial nos tipos de comportamentos inadequados para
com o diferente. Existem maus tratos verbais e físicos por parte de pessoas
malévolas e de mau caráter, que independem do fator educação. Pessoas
sociopatas ou perversas se satisfazem em ver o sofrimento alheio e ignoram o
sentimento do outro, portanto, não há como incutir a mudança de atos que geram
dor e tristeza. Nesta forma de discriminação, as atitudes cruéis devem ser
denunciadas e punidas.
No caso das situações mais comuns de preconceito e de
constrangimento ao outro, temos como base a ignorância. Não falo no sentido
pejorativo da palavra, mas realmente da falta de conhecimento. É aí que podemos
e devemos atuar. Eu, como mãe de uma criança autista, relatando as agruras do
meu cotidiano e a esperança depositada no futuro. Os terapeutas, educadores e
cientistas, compartilhando o saber sobre a gênese da doença, suas repercussões,
estratégias educacionais e avanços da medicina.
Conquistamos mais respeito para nossos autistas a medida que
ganhamos mais espaço para desvelar a doença autismo. Mostrando os rostos das
pessoas acometidas pelo transtorno, suas histórias, habilidades e deficiências.
Apresentando nossos temores, lutas e anseios como familiares. Desta forma,
construiremos uma sociedade mais tolerante, com menos olhares de reprovação e
ofensas gratuitas. Moldaremos uma geração futura de adultos conscientes da
diversidade humana e do papel individual no auxílio ao deficiente, e da
aceitação do que não corresponde ao padrão de normalidade.
As pessoas que olham de maneira “atravessada” à
comportamentos bizarros e descomedidos, quando impregnadas de informação sobre
os motivos que levam alguns indivíduos a agirem desta maneira, mudam sua
postura de afronta e passam para uma atitude mais compreensiva e, algumas
vezes, até colaborativa. E, crianças, crescendo no convívio com o diferente,
começam a considerar a diferença usual.
Assim: falando, debatendo e escrevendo, é que iremos
proporcionar uma vida mais digna e plena para todos os autistas de nosso país,
com olhares mais ternos e que enxerguem além do que o corpo inquieto revela.
Silvia Sperling