Autismo - Uma Vida em Poucas Palavras

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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Santa Paciência

A tolerância às frustrações é algo muito individual e nós, mães de autistas, somos submetidas a inúmeras e crescentes provas de resistência física, de paciência e de humor.
Eu, particularmente, me desestabilizo muito com a redução de horas de sono, com a bagunça exagerada e com a dificuldade de meu filho aprender a ir ao banheiro sozinho quando necessita. A soma destes fatores de forma contínua me leva à ataques de fúria e gritos, e a incompreensão de quem me cerca retrucando: “Por que ser tão grosseira e obsessiva?”, me deixa mais irada e desanimada. Mas será que tenho que me acostumar e achar agradável acordar às 4h da manhã no inverno quando a maioria das pessoas está curtindo o sono profundo? Ou acordar às 6h no final de semana, em que 99% dos humanos que estão de folga, “recarregam suas baterias” descansando o corpo e a mente até mais tarde? E o caos? Devo achar normal não conseguir caminhar pelo quarto de meu filho, que joga todos seus brinquedos no chão e ali os deixa até eu guardá-los pela vigésima vez no dia, ou me contento com a parcial arrumação à sua maneira, jogando alguns itens no armário?
Quando penso que muitos momentos difíceis ficarão para trás, logo, outros tão complicados aparecem. Tenho que reaprender a lidar com ataques de raiva de Otávio em público. Hoje ele é maior, mais forte e determinado. Me arrasta, me enfrenta, me desgasta, me diminui com seus gritos em corredores movimentados do shopping. Sinto os olhos das pessoas nos observando, rostos colados nas vitrines, parece que revejo filmes sobre crianças autistas. Sinto um calor e uma tristeza profunda. Odeio o sentimento de pena que sei que os outros estão sentindo.
Onde estão a garra e determinação referidas e admiradas por quem conhece nossa história? Será uma máscara que carrego, de forte e batalhadora, que enfrenta tranquilamente esta guerra contra o autismo? Não. Sou humana e como toda mãe de autista, tenho meus sentimentos aflorados pela avalanche de sintomas expostos pela doença de meu filho.
Vivemos num carrossel de emoções oriundas de um dia a dia nada típico da sonhada vida em família. A complexidade do autismo nos modifica sempre e para sempre.

Silvia Sperling.