Autismo - Uma Vida em Poucas Palavras

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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Que escola é essa?


 No final de 2014 meu filho perdeu sua escola e eu perdi minhas  palavras. Lhe retiraram o espaço onde
cresceu e no qual conquistou o respeito e carinho dos 
colegas.
 Otávio, com suas grandes dificuldades de aprendizagem e enorme afetividade,  foi convidado a desligar - se da instituição de ensino privado, seu porto seguro durante 7anos.  O revoltante é que a  expulsão não foi por algum comportamento impeditivo de convívio social , mas pelo fato de eu expor o baixo
comprometimento docente. 
  Sempre fizemos  o que estava ao nosso alcance.  
Contratamos uma pedagoga para acompanhá - lo ,  
reduzimos sua carga horária diária para 2 horas mantendo o mesmo custo mensal e, disponibilizamos equipe especializada para dar suporte. 
   Frente à esta rasteira fui em busca de uma
instituição para crianças com necessidades especiais .
Lá fui alertada sobre as potencialidades de meu garoto e estimulada a mantê-lo no ensino regular. Ouvi sucessivas negativas na rede privada e já  desiludida com a farsa intitulada de escola inclusiva,  me despi de preconceitos e fui conhecer a realidade de uma escola pública municipal. 
 Há muito tempo não éramos tão bem recebidos!  A vaga era real e o trâmite para sua transferência foi ágil. As pessoas foram calorosas, empáticas e os colegas receberam meu filho sem julgamentos ou temores,  somente com muito afeto e desejo de ajudar. A equipe é 
envolvida no tão sonhado trabalho de inclusão e está 
aberta à participação de especialistas na construção da 
abordagem pedagógica. A estrutura e os recursos estão distantes do que temos na rede privada,  mas do que 
adianta termos acesso à ferramentas se não temos a
vontade de construir algo diferente e desafiador? 
 Pois sigam com a falácia da inclusão escolar,  
extorquindo famílias dispostas à tudo para  garantir uma oportunidade de desenvolvimento para seus filhos 
atípicos. 
Eu sigo um novo trajeto rumo à esta luz de esperança,  
atrás de uma velha porta e de muros desgastados,  que
abrigam corações gigantes e braços que confortam.

                                          Silvia Sperling Canabarro





                                  



quarta-feira, 1 de abril de 2015

Silêncio e Som


 Será que tudo já foi dito?  Não. Porque nem tudo foi sentido. A cada dia uma nova conquista, um novo problema, uma nova solução,  uma nova mania. O teu crescer é único, assim como teu autismo.  

Como te caracterizar,  se o que  disse ontem pode não se aplicar hoje? Tuas emoções são confusas e se não  consegues  expressá - las  de maneira fiel, como te entender,  te confortar, te auxiliar? 

Nenhuma  droga foi encontrada para atenuar com eficácia teus rompantes, tua inquietação e tuas tantas outras peculiaridades. Pesquisas proliferam-se e nós, pais de autistas, ansiamos ávidos por resultados  consistentes.  

Cada família traça  seu caminho da melhor forma que consegue . Temos que eleger uma boa escola, bons terapeutas e um bom manejo, isto quando esta escolha nos é permitida. Se nosso bolso alcança ou se somos contemplados por algum serviço público de qualidade. 

Temos que enxergar através da doença de nosso filho e acessar o indivíduo que se esconde no emaranhado da teia de sinapses cerebrais. O ser que suplica pela  emersão. 

Então, concluo que muito pouco foi dito e,  se me calo, é porque o que vejo e sobre o que reflito não é suportado por palavras. Assim, me aquieto e me apequeno . Espero a dor apaziguar para que  aflore o brado que me sufoca . A fúria da expressão que  traz a força para o enfrentar. 


                                            Silvia Sperling Canabarro