Autismo - Uma Vida em Poucas Palavras

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sábado, 2 de abril de 2016

Toda forma de amor


Natalino entrou em nossas vidas no dia 23 de dezembro de 2015. Se eu acreditasse em presentes divinos diria que foi enviado para uma missão especial. Meu marido o viu encolhido junto à roda de meu carro estacionado em frente de nossa casa. Era uma noite chuvosa e mais fresca, e o cão estava tremendo, mostrando-se bastante amedrontado. Imediatamente buscamos uma generosa porção de carne fresca e entregamos ao faminto cachorro que abocanhou-a e devorou-a em segundos.
Ele fedia muito e mancava de uma pata. Após alimentá-lo fomos dormir e o deixamos livre para seguir o caminho que quisesse. Para nossa surpresa, pela manhã o cão permanecia em frente à nossa casa , deitado, mas vigilante. Com seu olhar de pedinte, o vira-lata orelhudo ganhou mais carne e conquistou nossos corações. Foi levado até a clínica veterinária na véspera de Natal e ganhou uma consulta, anti-inflamatório e um merecido banho. Pronto! Agora ele era nosso e recebeu um nome sugestivo: Natalino.
Pode parecer uma história comum, mas o fato é que eu nunca fui apegada à animais e minha breve experiência com um filhote de cão de raça, adquirido por uma bela quantia , não foi muito animadora. Com o filhote despejando suas necessidades incessantemente em torno de si e pisoteando tudo, transformando meu lar em uma enorme latrina, resolvi rapidamente doá-lo e encerrar o assunto de animais de estimação. Mas o Natalino veio para mudar esta crença e trazer o amor na forma mais pura.
Quando ele entrou em contato com meu filho, autista, de 12 anos, não se importou com a indiferença peculiar à sua condição e mostrou realmente à que veio. Tratou de seguir e vigiar incessantemente Otávio enquanto este corria alucinadamente para seus mergulhos intermináveis.
Natalino não larga seu posto de cuidador à beira da piscina por nada. Ignora a comida e até a chuva que ele tanto teme, pois é um cão friorento. Passa horas de seu dia atento aos mergulhos de Otávio e se observa algum comportamento perigoso, late desesperadamente. Desta forma conseguiu atrair a atenção de meu filho, que acha engraçado o latido forte e o olhar intenso do animal. Otávio encontrou alguém que o acompanha na sua solitária terapia aquática. Joga água no cão que retribui a brincadeira com saltos e abocanhadas no ar, despertando admiração e risadas de meu pequeno peixinho. Natalino também suporta horas de lamúrias de Otávio, com sua tolerância canina e silêncio apaziguador.
Agora Otávio possui um amigo que o aceita do jeito que ele é, e construiu uma relação onde não são necessárias palavras nem códigos sociais para sustentar o carinho e a dedicação.
Se este encontro é obra do acaso ou resultado da intervenção divina, certamente não saberemos, mas prova que a vida pode ser mágica e que podemos encontrar o amor em qualquer lugar, há qualquer hora, de qualquer forma.
                     Silvia Sperling Canabarro