Autismo - Uma Vida em Poucas Palavras

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sábado, 10 de julho de 2010

Dor e superação – Diário de uma mãe.

Domingo de outono, meu filho já fez xixi no sofá duas vezes quando já pensava ter superado esta fase, mas elas voltam. Torno a gritar, brigar, colocá-lo de castigo e educá-lo. Mas ele entende? Atende ao pedido de um beijo, e comandos simples. Mas porque é tão difícil aprender como pedir para ir ao banheiro? Já não faz mais xixi na roupa. Na rua segura o esfíncter o máximo que pode até aliviá-lo em um banheiro que se sinta seguro e confortável, e em casa despe-se todo, e tenho que ter a sorte de presenciar este momento para que não ocorra o que hoje sucedeu.
No autismo é assim, fases superadas por outras crianças não são etapas definitivamente ultrapassadas, elas retornam como fantasmas: a insônia, o descontrole esfincteriano, as birras... Sempre ouvimos que precisamos respeitar o tempo de aprendizagem das crianças, e que cada qual tem o seu. No caso de quem tem autismo esta paciência deve ser redobrada, já que a maneira de assimilação de informações ainda não foi esclarecida. Temos orientações de psicólogos e psicopedagogos, que são unânimes na forma de como orientá-las, sempre com frases curtas e simples. Este recurso didático empregado continuamente, aliado à perspicácia da família no sentido de atentar aos sinais não verbais de pedido por parte da criança, aumentam a chance de sucesso no manejo de problemas cognitivos. Atualmente, reforço a orientação ao nosso filho: não pode fazer xixi no sofá nem no tapete. Xixi é no banheiro. Outra exemplificação que considero útil no sentido de reforçar a importância da paciência e persistência é o da eliminação das fezes. Passamos dois anos, eu e meu marido, tentando ensinar o Otávio a fazer cocô no vaso sanitário, permanecendo por vários minutos com ele no banheiro, mas nosso filho retinha o conteúdo por dois ou três dias e acabava eliminando de madrugada no seu quarto, causando transtorno e frustração de ambas às partes. Há cerca de dois meses, meu marido sugeriu que o levássemos ao banheiro logo após ele adormecer, e esta tentativa singela resultou em êxito. Ele adormecido fica dócil e relaxa o esfíncter anal.
Os pais são eternos vigilantes do comportamento de seus filhos. Não podemos relaxar, pelo menos não enquanto estamos sozinhos no comando. Clamamos por um tempo de sossego, nada para fazer, nenhum sobressalto... Bendito os avós, professores e demais cuidadores que nos aliviam um pouco desta árdua tarefa. Sabemos que é reconfortante o abraço e o sorriso inocente destes pequenos, mas hoje falo do trabalho e do cansaço que aflige os pais de crianças com deficiências. Não desista frente ao primeiro, segundo ou terceiro fracasso ao ensinar. Respire fundo, faça o que tiver que ser feito, e aguarde ansiosamente pelas conquistas destes pequenos guerreiros. É necessária também a pausa para nos reencontrarmos com nossa essência: como somos, do que gostamos, e o que nos faz feliz. Isto nos dá força para enfrentar um novo dia. Voltei a dançar. Dancei por dez anos e parei o mesmo tempo. Hoje redescobri o prazer de movimentar meu corpo ao som da música. Alongar, soltar, sonhar com o desejo antigo de ser bailarina. Só sonhar. Já basta. Dance, pinte, escreva. Não perca o contato consigo mesmo, e assim, na próxima dificuldade que a doença e/ou deficiência de seu filho lhe impuser, novamente, respire fundo, faça o que tiver que ser feito e aguarde ansiosamente pelo seu momento de recompensa interior.

2 comentários:

  1. Oi Silvia, lindo o seu depoimento. Tenho um filho autista de 26 anos e sei muito bem tudo isso q vc falou...Moro no Rio e meu email é lmfgp@hotmail.com se desejar entre em contato. Meu filho tb pratica ginastica olimpica aqui no Rio, com uma equipe maravilhosa. Um bj, Lidia

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