Autismo - Uma Vida em Poucas Palavras

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terça-feira, 2 de abril de 2024

Esperança em conta gotas


Nós,  familiares de autistas,  ansiamos a cada novo obstáculo que a doença nos apresenta,  encontrar manejos e recursos que nos auxiliem proporcionar uma melhor qualidade de vida ao portador da síndrome. Sabemos que durante o desenvolvimento da criança,  passando pela adolescência até a vida adulta,  o autista pode manifestar sintomas e comportamentos que trazem desde prejuízos sociais até impactos neurológicos mais comprometedores , como as convulsões. 

Meu filho teve seu primeiro episódio de convulsão generalizada ainda quando criança. Foi um episódio isolado até seus 17 anos. A experiência é aterrorizante para quem nunca presenciou . Em um segundo seu filho está sentado olhando TV e no outro seus olhos reviram e seu corpo tomba num tremor incontrolável. Isso pode durar segundos ou minutos que parecem intermináveis. Não há o que fazer para cessar a crise, só manter seu corpo protegido de lesões físicas.  

Nessa primeira experiência corremos para a emergência para avaliar suas condições pós evento epileptogênico. Nada constatado,  volta-se para a vida normal,  que nunca mais será normal,  visto que já não o era. 

O medo e a ansiedade permeiam os dias seguintes,  mas com o apoio de profissionais e tendo em mãos o tratamento medicamentoso indicado nos tornamos mais confiantes e esperançosos de que esses eventos não se repitam,  pelo menos num futuro próximo. 

No início de 2020, um mês antes do início da pandemia,  o terror se instalou novamente com três episódios em sequência de convulsões,  desde a primeira mais severa até a última mais leve.  Adequamos as medicações e após um mês a vida voltou ao nosso normal,  e naquele momento,  ao novo normal da humanidade. 

Isso tudo me impactou muito,  pensei que afundaria na depressão. Não achava justo ter que lidar com o autismo e,  de repente,  com a epilepsia associada. Onde isso vai parar, me perguntava. Sempre me esforcei para ser positiva e ter momentos alegres,  cultivar meus momentos de paz e prazer,  com minhas plantas e atividade física. Mas crises convulsivas não estavam no meu planejamento de manejo de problemas.

 Como o tempo e o arsenal medicamentoso tratam quase tudo,  novamente seguimos nosso caminho tortuoso,  sem crises generalizadas, ou seja, sem aqueles eventos pavorosos de tremores e quedas com perda de consciência. Mas quem convive com a epilepsia sabe que ela se manifesta de maneiras mais sutis e que o olhar atento do cuidador percebe quando as descargas neurológicas estão ocorrendo. Percebemos desde maneirismos faciais e corporais até comportamentos disruptivos. 

Quando meu filho começou a andar nu em casa, com o olhar vago , perdendo o interesse pelo inseparável tablet , pela TV e até pela comida que adora,  me desesperei. Pensei, agora tornou-se um alienado,  típico de instituições psiquiátricas,  como a que tive o desprazer de conhecer quando fiz um estágio de familiarização há muitos anos atrás. Aquelas pessoas vagando sem rumo , gemendo e urrando eram cenas dilacerantes. Isso não! Algo entrou em disfunção no seu cérebro. Foi então que tive um insight e propus à médica o uso do canabidiol. E é sobre este assunto que quero me aprofundar.

No mês de Conscientização do Autismo comumente fala -se sobre o preconceito que a pessoa deficiente sofre, mas não posso deixar de abordar  neste momento,  o preconceito à essa medicação tão promissora que é o canabidiol. 

Nunca fumei maconha e nem pretendo,  apesar de achar que o álcool que consumo com certa frequência deve ser mais prejudicial que a erva em questão. Mas o canabidiol não é maconha e isso deve ficar claro de uma vez por todas , para que ideologias religiosas ou políticas não contaminem a compreensão e o apoio da sociedade na luta de milhares de pessoas que se beneficiam desse medicamento. 

Após a introdução do canabidiol,  em poucos dias,  meu filho voltou ao comportamento adequado. Desapareceu a mania bizarra de andar nu, melhorou muito a qualidade do sono, ficou mais feliz,  tranquilo e focado. Também reparei que quase desapareceram os movimentos faciais involuntários que tanto me afligiam,  me levando a inferência de serem descargas elétricas cerebrais que poderiam evoluir para uma convulsão. 

Não há como ignorar os impactos positivos do canabidiol no tratamento da sintomatologia do autismo e de tantas outras enfermidades. Esse óleo extraído da planta Cannabis Sativa,  que não causa efeitos alucinógenos ou dependência,  é um grande aliado na obtenção de qualidade de vida de pessoas que sofrem e fazem uso de inúmeras outras medicações danosas aos órgãos pelo uso prolongado das mesmas. 

Chega de desconfiança das vacinas, da difamação da indústria farmacêutica e do repúdio ao desconhecido. É hora de ouvirmos os especialistas e celebrar o avanço da medicina. 

Não faço apologia ao uso recreativo da planta,  mas sim à utilização medicamentosa do óleo,  prescrita pelo profissional habilitado. 

Assim, compartilho minha experiência exitosa com o canabidiol. Meu filho segue com inúmeras outras medicações,  portanto,  ainda não chegou a pílula milagrosa,  mas espero que essas gotas que trouxeram alívio a um corpo e uma mente disfuncional,  possam fazer parte do tratamento de muitos outros autistas,  e que o acesso seja facilitado com a regulamentação do plantio da Cannabis Sativa para fins medicinais,  o que acarretará em produção nacional com insumo próprio , barateando o produto de forma considerável. 

Já que a sociedade clama por inclusão,  devemos lutar também pela inclusão da população de baixa renda ao tratamento com canabidiol. 

A nossa sagrada natureza nos oferta esse insumo valioso para seu bom uso, e nisso não há nada de profano.


  Silvia Sperling Canabarro 


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